top of page

Estesia & Laís de Assis na Mostra Leão do Norte

  • Foto do escritor: Carlos Filho
    Carlos Filho
  • 9 de nov.
  • 3 min de leitura

Quase 10 anos depois voltamos ao Teatro Marco Camarotti, onde tudo começouEstesia Laís de Assis Leão do Norte

Estesia Laís de Assis Leão do Norte

Agradecimento Estesia & Laís de Assis | foto por Hannah Carvalho
Agradecimento Estesia & Laís de Assis | foto por Hannah Carvalho

Estesia Laís de Assis Leão do Norte

Há lugares que guardam o som da primeira vez. O Teatro Marco Camarotti é um deles. Foi ali que o Estesia nasceu, ainda sem saber o tamanho do que seria, apenas com o desejo de criar algo que nos transbordasse. Quase dez anos depois, retornamos àquele palco. E o que senti foi como abrir uma caixa antiga: dentro dela, o tempo guardou a juventude do risco, o cheiro da madeira que o piso a as paredes carregam, os ecos do primeiro aplauso.


Dessa vez, voltamos para reencontrar Laís de Assis. Uma das artistas mais potentes que temos, pioneira na viola brasileira. Tínhamos tocado juntos na semana da música do Conservatório Pernambucano de Música anos atrás. A junção do som da viola com o eletrônico chegou a um lugar bonito, novo, misterioso. Era preciso nos encontrar novamente, dessa vez com mais tempo, tocando mais músicas juntos. 


No repertório, Laís trouxe temas do seu álbum, e nós revisitamos canções que marcam nossa história: “Pastoreio” e “O Ciúme”. Entre as duas, o tempo abriu uma janela.

Estesia Laís de Assis Leão do Norte

Carlos e a Lâmpada | foto por Hannah Carvalho
Carlos e a Lâmpada | foto por Hannah Carvalho

No início de “Pastoreio”, algo me atravessou. Tínhamos combinado da introdução ser livre, adicionando camadas aos poucos até chegar em algo satisfatório. De repente me veio a voz de Sebastião Dias (Poeta, Repentista, Cantador), que ouvi menino na feira de Serra Talhada, ao lado de minha avó, Dona Liquinha, enquanto ela segurava em minha mão. Respirei fundo e fui até o vilarejo d’As Pitomba, cantei versos de “Cenários do Pajeú”. Foi como se o rio voltasse a correr dentro de mim.

Quantos corpos flutuantes Descem no dorso lendário Entre espumas borbulhantes O real e o imaginário Se confundem nos remansos Nos faz em lentos balanços Sobe e desce o corpo nu De uma criança sem mágoas Bela e pura como as águas Do leito do Pajeú Vez em quando da colina desce alegre a camponesa Que na água cristalina vem expor sua beleza Desnuda o corpo trigueiro da roupa que solta o cheiro De carimã e beiju E onde o banho ela toma Deixa o gostinho de goma Nas águas do Pajeú Um carvoeiro suado Com tígino até no pescoço De tarde esconde o machado E vai se banhar num poço As suas mãos estouradas E  as pernas encalombadas Do ferrão do capuchu Mas o seu cansaço estranho Termina depois de um banho Nas águas do Pajeú Nesse canteiro de flores Que a natureza constrói Seus gênios são cantadores O vaqueiro é o seu herói Sua memória completa Com certeza algum poeta Guardou no fim de um baú Um livro com a história A vida e a trajetória Do povo do Pajeú

Cantar isso ali, no mesmo teatro onde tudo começou, foi mais que memória: foi encruzilhada de tempos. O público estava atento, entregue, vibrando no final.

Senti orgulho. Senti felicidade.


De estar ali com Estesia, quase dez anos depois, ainda com o mesmo fogo de quem acredita no som como oferenda.


Ao chegar em casa, recebi uma fotografia em que eu estava no meio do palco. Olhando aquele instante guardado, escrevi os versos:


Carlos | foto por Hannah Carvalho
Carlos | foto por Hannah Carvalho

No palco, o corpo é ferida e farol. A voz rasga o ruído pra achar o que é vivo. Tudo gira: luz, suor, silêncio e no olho do furacão, eu canto.
Canto pra que o instante me atravesse, pra que o invisível se revele na brutal delicadeza de estar inteiro, de peito aberto, alma nua, e fé no som.

Talvez seja isso o que ficou: A FÉ NO SOM.

A certeza de que voltar também é um jeito de seguir.



Carlos e Laís | foto por Hannah Carvalho
Carlos e Laís | foto por Hannah Carvalho

FICHA TÉCNICA: Mostra Leão do Norte - SESC PE [2025] Estesia Carlos Filho - Voz e Guitarra Cleison Ramos - Iluminação Cênica Miguel Mendes - Sintetizadores Tombc - Beats e Guitarra Lais de Assis - Viola Dinâmica Tainá Menezes - Produção Executiva Miguel Santana - Técnico de som

Amanda Souza - Assistente de iluminação Hannah Carvalho - Fotografia SESC Santo Amaro - Teatro Marco Camarotti Ailma Andrade - Coordenação e Direção Júnior Brow - Técnico Iluminação

Saw Lima - Técnico Sonorização

Cams Mendes - Apresentação


1 comentário


anamariambreinaldo
09 de nov.

Carlos querido, a minha admiração por você só aumenta. Amo tudo que você faz. Os sentimentos profundos que você passa cantando ou recitando, com um jeito tão fluido e cativante, nos leva a uma viagem imaginária ao Pajeú e ao infinito. Você é um artista completo e especial, por isso desejo que você alcance muito mais sucesso! Ser sua fã é maravilhoso, porque você é gente como a gente. Gratidão pelo lindo trabalho e por ser essa pessoa tão diferenciada. Tenho orgulho de ser sua fã, meu ídolo amado. Você me faz tão bem. Te amo.😘

Editado
Curtir
  • Instagram
  • YouTube
  • Spotify

© 2025 C a r l o s F i l h o

bottom of page