Tenho Sede: A Sede Que Nos Move
- Carlos Filho
- 16 de set.
- 3 min de leitura

Existe uma canção que me acompanha há anos e que sempre me toca de forma intensa: “Tenho Sede”, parceria de Dominguinhos e Anastácia. Mais do que uma letra, é um retrato da urgência do amor, da necessidade de presença, do desejo que atravessa o corpo e se instala no afeto. Trabalhando no roteiro do próximo show (20/set) têm dias que tô com essa cantiga no juízo.
Quando canto essa música, sinto que a água pedida no verso inicial — “Traga-me um copo d’água, tenho sede” — é, na verdade, um pedido de cuidado, de olhar atento, de afeto. Muito me encanta a forma como a letra transforma a simplicidade de um gesto cotidiano em metáfora de algo vital: a vida sem amor se torna árida, como a terra sem chuva. Para nós, sertanejos (Sertão), a força dessa metáfora se impõe com cirúrgica firmeza.


O lirismo de Dominguinhos e Anastácia é construído na observação, principalmente nessa integração para/com a natureza: a planta que pede chuva, o céu que escurece antes da tempestade, o coração que implora por amor. É impressionante como, em tão poucos versos, a canção nos coloca diante da fragilidade e da potência do sentimento humano. Algo que a escrita de Anastácia atinge com muito frequência. Aproveito para deixar aqui um depoimento.

Em julho deste ano de 2025 estive, mais um vez, cantando e apresentando o FENFIT (Festival Nacional de Forró de Itaúnas) no Espírito Santo. Na noite do dia 12 tive a alegria de apresentar o show de Anastácia com uns versos que escrevi enquanto calmamente ela se organizava no camarim. Fingi normalidade, mas só eu sei o que se passava dentro mim. Era ela, A RAINHA, ali. Eu, grato a vida pela oportunidade de tá respirando o mesmo ar que ela, escrevi:
QUANDO UMA MULHER ESCREVE FORRÓ
(Carlos Filho) Ela veio antes de tudo isso. Antes da hashtag. Antes do orgulho. Antes das manchetes e reverências. Veio quando não se vinha. Quando mulher só entrava na história pela porta dos fundos, pra servir café, dar refrão ou ser inspiração. Mas ela não. Ela pegou a caneta. E fez dela faca, flor e fole. Escreveu o que doía. Escreveu o que faltava.
Escreveu o que a gente nem sabia que queria cantar.
Fez do silêncio, matéria-prima.
Fez da ausência de lugar o seu território.
Fez do forró — tão masculino, tão fechado — um quintal onde sua voz cabia.
Quantas vezes a chamaram de musa? Quando, na verdade, ela era a mão que escrevia o forró no mundo!
Anastácia é mais que nome.
É ferida aberta e cura antiga.
É mulher inteira:
Corpo e alma.
Hoje ela não entra como lembrança.
Ela entra como trovão.
Trovão de vestido preto, de batom e paetê.
Trovão que escreveu mais de oitocentas vezes… o que é ser mulher.
Mulher. Nordestina. Compositora de um Brasil que ainda… Ainda precisa aprender a escutar.
Hoje o palco não se abre.
O palco, essa vila SE AJOELHA.
Porque está vindo aí A Senhora do Xodó.
A Inventora da Sede. A Matriarca do Nosso Canto.
VEM, ANASTÁCIA! QUE O BAR FORRÓ TE ESPERA DE PÉ!
Abre teu canto,
faz brotar flor em cada chão:
nessa noite de encontros,
seu forró vire oração.
Senhoras e Senhores, recebam com o melhor dos aplausos a guardiã da nossa tradição, nossa inspiração: Vossa Majestade, Rainha Anastácia!
Lembro-me que enquanto lia cada palavra, as pessoas aumentavam o sorriso e uma mulher (que dias depois descobri ser Japonesa) chorava solenemente. Ela viera do Japão para o Festival e me disse ter realizado seu sonho de ouvir Anastácia cantar de perto. Terminei meus versos, ela entrou no palco e noite dançou serena, música por música, clássico por clássico, hit atrás de hit.
Para mim, “Tenho Sede” é uma lembrança constante de que a música pode ser um espelho da vida, das emoções que não conseguimos conter, e da beleza que existe em traduzir urgência e delicadeza na mesma respiração. É uma obra que me inspira, me faz refletir e, acima de tudo, me conecta com a essência do que significa sentir, esperar e amar.
Deixo abaixo minha interpretação de “Tenho Sede”, só voz e violão, como quem oferece um gole d'água num dia de calor. Que essa música encontre em você a terra fértil onde a poesia floresce.
Sempre gostei desta música, mas, você cantando desse jeito único, ela me tocou diferente, principalmente depois que li seu post falando da autoria dela. Com toda sua sensibilidade. Você me transportou em cada verso como se estivesse assistindo um filme. Você é um ser de luz e um artista diferenciado, tem a capacidade de nos levar a transcender. Cada dia te admiro mais. 😘
Essa canção "Tenho Sede" me toca profundamente.
É ternura que corre...
É vida que quer nascer...
É amor que sacia...
Ficou linda na tua voz❣️